Pela unidade e solidariedade entre os povos latino-americanos

As minhas primeiras palavras serão, em nome do povo de Cuba e em particular de seus trabalhadores, uma saudação fraternal e solidária ao povo irmão da Nicarágua (o povo de Sandino) e à Revolução Popular Sandinista.

Para a Central de Trabalhadores de Cuba é uma imensa satisfação poder materializar a realização deste IV Encontro Sindical Nossa América, fruto da unidade de pensamentos progressistas do movimento sindical na região. A esta satisfação se soma o fato de poder realizar este evento na Nicarágua, em um verdadeiro clima de efervescência revolucionária de homens e mulheres de bem que lutam por uma sociedade de justiça social, por isto nos alegra acompanhá-los em seus empenhos, ao que lhes desejamos êxito.

Desenvolvemos o IV Encontro Sindical Nossa América em um contexto internacional complexo, de crise e contradições. Se bem que a crise econômica global continua aguda, na América Latina a situação vem se caracterizando, de maneira parcial, por sua discreta recuperação após o golpe sofrido em 2009, com o decréscimo dos preços das principais fontes de exportações.

A tendência à primarização da economia latino americana permitiu que hoje os preços dos produtos básicos estejam altos, devido à demanda mundial nos países desenvolvidos, o que influi no crescimento macro-econômico da economia latino americana, o que traz em si um alto perigo pra as nossas economias. O sistema capitalista, empenhado na sua transnacionalização e marcado sentido militarista, está ávido por nossos recursos naturais, impulsionando um modelo produtivo depredado e sustentado pelas regras do mercado.

Sem dúvida, hoje a América Latina continua sendo um cenário de desigualdades marcantes na distribuição de renda. Os 40% dos lugares mais pobres e recebem apenas 15% da entrada total de renda, enquanto que os 10% de locais com maior renda recebem 35% do total. Como média, a renda dos 20% de latinos americanos mais ricos supera em 20 vezes os 20% mais pobres.

Hoje, na América Latina sob o fenômeno do aumento dos preços dos alimentos, materializa-se a tendência ao crescimento, ainda que segundo dados oficiais, atualmente cerca de 53 milhões de cidadãos latino americanos são famélicos.

Entre os maiores de 15 anos, há 8,3 % de analfabetos na América Latina. A mortalidade infantil média é por volta de 19 em cada mil nascidos vivos. Essa taxa de mortalidade entre as populações indígenas é 60% maior.

O desemprego na América Latina nos últimos anos figura entre 10% e 7%, onde contribui em muito o emprego informar com sua carga de insegurança e instabilidade trabalhista.

Por isto tudo, e como expressa o Documento Político que nos serve de base para o debate neste IV ESNA, para os trabalhadores constitui um desafio e uma necessidade transformar a crise mundial em uma oportunidade, o que requer construir propostas alternativas para a luta e a busca de saídas que permitam renovar suas esperanças e o sentido do bem estar social.

Nossa tarefa imediata deverá estar centrada em avançar na construção de alternativas no que tange à soberania alimentar, energética e financeira, na defesa do meio ambiente e contra o efeito das mudanças climáticas, a demanda por contar com uma região onde prime a paz e não a militarização e o terrorismo de Estado e onde a atenção e a busca de soluções aos graves problemas sociais, que ainda nos afligem, sejam a base de nossas razões de luta.

Preconizou-se acerca do uso de mecanismos econômicos que permitam encontrar saídas rápidas para a atual conjuntura de crise, porém estes se mostram impossíveis de serem superados enquanto os responsáveis diretos por ela persistirem em utilizar os mesmos métodos que originaram a crise.

Para os trabalhadores e os povos da América Latina, cada vez mais somos conscientes de que a fórmula possível para enfrentar a crise e encontrar verdadeiras saídas, dependerá de que encontremos diferentes variantes que nos levem a uma efetiva integração. Isto constitui um objetivo essencial deste e de outros encontros sindicais.

Iniciativas como a ALBA, a UNASUR e proximamente a CELAC – Comunidade dos Estados Latino Americanos e Caribenhos, a criação do Banco do Sul, o estabelecimento de uma moeda regional, mostram o rumo que nossos povos podem seguir para a sua real e total independência. É por esta razão que os esforços que fazemos desde o ESNA devem estar voltados para a busca permanente de convergências nos interesses dos trabalhadores e dos povos, com a marcante autenticidade latino americana, onde devemos conseguir superar as causas que limitam e impossibilitam um maior grau de participação e protagonismo dos trabalhadores nestes processos integracionistas.

Avançar em direção à construção da unidade constitui um fator de primeira ordem, como elementos de sustentação das possibilidade de atuação, em favor de uma verdadeira integração. Apesar da existência da diversidade em nossas posições e afiliações, é possível e necessário encontrar pontos comuns que nos permitam atuar de maneira conjunta e articulada. O inimigo é o mesmo: o sistema capitalista, que não faz distinção quanto trata de impor seus interesses.

Chegamos até aqui com um ESNA que cresce, desenvolve-se e se fortalece, que representou um salto quantitativo e qualitativo em sua curta existência, que ganhou espaço em visibilidade no contexto das lutas sociais na nossa região e que se está convertendo em mais um referencial na construção da unidade dos trabalhadores.

Não obstante ainda nos falta um longo caminho a percorrer no cumprimento de nossos propósitos. Resta-nos continuar avançando na construção de estratégias que permitam um maior grau de inserção e participação articulada nas lutas sociais e populares, nas nossas relações com outros setores e no estabelecimento de mecanismos que nos relacionem aos processos transformadores da região e dos governos que os impulsionam, preservando a nossa identidade e a representação dos trabalhadores.

Corresponde-nos, neste Encontro Sindical Nossa América, fazer um balanço mensurado do que foi realizado até aqui, porém sobretudo visualizar o caminho que nos resta adiante e em consequência nele projetarmo-nos.

A decisão inovadora de desenvolver um Programa de Formação, Investigação e Assistência Técnica, constituiu um ponto qualitativamente superior no ponto de vista do que fazer deste Fórum neste último ano, sua concretização levou a um grande esforço de muitos.

Hoje podemos dizer que avançamos e praticamente cumprimos nossas tarefas iniciais relativas à Formação. Ainda temos grandes desafios à frente em razão da Investigação e Assistência Técnica e, portanto, a maior parte está centrada no sentido de continuidade que demos ao realizado até agora e na capacidade e interesse que empenhemos no que resta a fazer

O chamado que hoje nos convoca é a oportunidade de avançar, de maneira articulada com todas as lutas com propósitos iguais, no fortalecimento da luta pelos direitos econômicos, políticos e sociais demandados pela classe trabalhadora e na construção de alternativas que nos tornem mais independentes e soberanos.

Proponhamo-nos a um debate criando critérios e recomendações que nos permitam superar as limitações ainda presentes, ratificando nossas posições de classe e concordemos em instrumentalizar iniciativas e ações comuns, tanto no plano interno quanto internacional, onde coloquemos à disposição das atuais necessidades de luta, toda a nossa capacidade organizativa e mobilizadora, sob a premissa fundamental da UNIDADE.

Por último, não posso terminar minhas palavras sem deixar de agradecer às múltiplas demonstrações de amizade e solidariedade que temos recebido por parte do movimento sindical latino americano – que vocês representam – frente ao brutal bloqueio que, apesar dos anos transcorridos, do dano causado e do seu fracasso, continua com a intenção de destruir a Revolução e a nossa via socialista de desenvolvimento, referendada pelo povo cubano.

Nas circunstâncias atuais, trabalhamos com brio no aperfeiçoamento da nossa sociedade, através da atualização das experiências de mais de 50 anos de revolução, com a participação ativa e consciente dos trabalhadores e com o firme propósito de tornar visível a nossa prática socialista.

Igualmente desejo manifestar às organizações amigas, o agradecimento dos trabalhadores cubanos, da ICAP e dos familiares dos Cinco Herois, representados por Irma Shewerert, por acompanhar o nosso povo na luta pela libertação de nossos Cinco Patriotas presos em cárceres do império, na certeza de que este acompanhamento continua com novos brios, até que se faça a justiça.

VIVA A UNIDADE!
VIVA A SOILIDARIEDADE ENTRE OS POVOS!
VIVA A NICARÁGUA!

Muito obrigado!

Nem um passo atrás, nem para tomar fôlego!


Salvador Valdés é secretário-geral da Central de Trabalhadores de Cuba (CTC). Texto é a íntegra de seu discurso no ato de Abertura do IV ESNA.

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