@ tal Spread

Felizmente o spread não corresponde às gírias do litoral-Surf, da rua-SK8, da favela-Break e muito menos como expressão popular da Classe Trabalhadora. O spread é um termo que corresponde às transações financeiras, mais especificamente é nome dado ao lucro dessas transações, que partem desde ações na bolsa, títulos públicos até o sistema bancário. Em todas as situações tem como variável chave, os juros. Spread que traduzido do inglês é o mesmo que “espalhar”; pode espalhar diversas “zicas” para economia brasileira e para o mundo como um todo. Ver, Sem Sossego, artigo para Carta Capital de Luiz Carlos Belluzzo.

O spread como o próprio nome diz, “espalha” tanto, que o presente estudo tem o intuito apenas de um esboço do spread bancário, no Brasil. O spread bancário faz parte do cerne das atividades contemporâneas dos Bancos sejam, públicos ou privados, esse cerne é a diferença entre os juros e custeios administrativos do banco pela captação de recursos, via depósitos dos clientes seja físico ou jurídico, e, os juros, cobrado pelos empréstimos bancários, ou seja, crédito disponível para os clientes em troca dos juros. A diferença e em uma terminologia do sistema bancário, ocorre na taxa de juros do passivo que são os depósitos, muito inferiores, em relação à taxa de juros do ativo que são os empréstimos.

A crise externa de caráter financeiro iniciado no segundo semestre de 2007 com o sub-prime americano, atinge primeiramente a política monetária e, portanto, o crédito. O Brasil que vinha sofrendo um declínio do spread de 2003 até 2007 sofre um agravamento radical do spread no segundo semestre de 2008, atingindo o nível de maior spread do mundo. A crise no Brasil tem repercussão em 2009; o PIB-2008 correspondeu a um crescimento de 5,1% ante 0,2 de 2009. (IBGE)

O principal argumento administrativo de custeio para o spread elevado é o, risco inadimplência ou em último caso a falta de crédito. Segundo cálculos de diversas fontes a proporção de risco inadimplência em relação ao spread chega a 20% juntando-se aos outros encargos administrativos chegaria a 40% do spread, sendo o restante de lucro. Os spread´s dos bancos privados são sempre maiores que o dos bancos públicos, assim como, os primeiros a reduzir os spread´s após a retomada da estabilidade econômica foram os bancos públicos. O spread do banco privado tem outro fator negativo que é a remessa de lucros para o exterior.

Com autonomia de decisão na taxa de juros e câmbio, o gestor da política monetária é o Bacen – Banco Central que tem participação nos determinantes do spread e segue metas estipuladas pelo Ministério da Fazenda. A relação spread, juros, contas públicas e metas de inflação são intrínsecos e existe todo um roteiro do tipo do capital na política econômica com juros elevados, automaticamente capital financeiro de linhagem direta com a crise e centralidade na moeda. O “super-poder” do mercado financeiro se instala subsidiado pelo jogo na crise da economia externa comandado pelos governos EUA, Alemanha e conseguintes; com pouca reação do Bacen.

www.tema-pdf
Centro de Estudos da Consultoria do Senado Federal.  EVOLUÇÃO E DETERMINANTES DO SPREAD BANCÁRIO NO BRASIL. Brasília, agosto/2009

SPREAD BANCÁRIO NO BRASIL: Tendências de Longo Prazo, questões metodológicas e evolução recente. FEBRABAN. Janeiro de 2011.

DIEESE. Autonomia do Banco Central. 2005

Dicionário
Zica: É uma gíria (expressão popular) que corresponde à incoerência, desconexão e discrepância.

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Ser Periferia: Política, Cultura e Economia


André Lemos é sociólogo e membro da equipe do Centro de Estudos Sindicais (CES).

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