Ser Periferia: Juventude e Brasil no contexto

Periferia é uma palavra que tem o significado de estar em torno de um núcleo, de um centro e, portanto, pode ser pensada como sentido e localização. Podemos pensar em periferia do sistema econômico vigente; da geopolítica no âmbito internacional; do Estado Federativo e Nação que possui valores culturais, econômicos e constitucionais; em periferia urbana e rural, assim em toda esfera ou dimensão, desde geográficas, políticas e até mesmo psicológicas tem periferias. Na maioria das esferas e dimensões, periferia tem o sentido de desvantagem pela simples questão, acesso, e tende estar vulnerável aos interesses dos núcleos, dos centros das decisões, mesmo sendo maioria.

Não nascemos para o silêncio

Um exemplo de conflito e dimensão de periferia é o conceito de, “complexo de vira-lata”, enunciado nas discussões de ciências políticas. Conceito este que expressa uma realidade forjada no centro do poder sobre a realidade do Brasil em relação aos países de capitalismo “avançado”. Tal conceito vem passando por um processo de combate desde 2002, quando forças políticas de caráter de luta social ocupam funções preponderantes na gestão governamental do país. Esse processo é arranjado desmitificando os poderes do Brasil, até, os processos de mobilidade estruturais e legislativos da classe trabalhadora. Podendo tornar-se mais profícuo através do novo projeto nacional de desenvolvimento com valorização do trabalho.

Juventude, trabalho e desenvolvimento

Uma referência do quanto ainda falta para se avançar é a realidade da juventude. Embora, instituições de pesquisa e política formatam o conceito de adolescente-jovem 15-17 anos, jovem-jovem 18-24 anos e adulto-jovem 25-29 anos; ambas admitem que a idéia de juventude no Brasil se estende até os 34 anos em razão da lentidão do alcance da autonomia de maturação: emancipação. Isso ocorre pela qualidade e tipo de trabalho dos quais a maioria dos empregos para as primeiras faixas de juventude são de extrema rotatividade, baixa fiscalização, pouca noção de fase, planejamento, aprendizado e não permitem conciliar o estudo e trabalho, gerando uma morosidade no desenvolvimento das aptidões vocacionais, que é outra contradição, o jovem antecipa a sua entrada no “mundo do trabalho” muitas vezes pulando etapa da vida e tem lentidão no desenvolvimento das aptidões e capacitação. Sem contar disritmias refletidas nos conflitos de jovens e adultos, pais e filhos e das fases no próprio indivíduo relacionados a essa realidade. Nesse plano ainda que a expectativa de vida seja ascendente no Brasil, não é o critério principal da contextualização.

Juventude e PEA

O Brasil é um país com 50 milhões de Jovens entre 15 e 29 anos; 26% da população (Ipea, 2007). Destes 80% tem vínculo com trabalho e pertencem a PEA – População Economicamente Ativa (Pnad-IBGE, 2007). A faixa etária que se encontra em trabalho mais precário é de 15 e 17 anos. Na juventude de 15 a 29 anos, 30% se encontra na linha de pobreza tendo a renda per capita mensal de até ½ salário mínimo, 53% entre ½ e 2 salários mínimos (Ipea, 2007).
Imagem da juventude ou do mercado?

Em São Paulo, o comércio é o setor que mais emprega jovens de 16 a 24 anos sendo 26,2% dos jovens da PEA – juventude paulista, destes 70% está fora da escola e 20% não tem carteira assinada; a PEA – de juventude paulista é seguida da indústria 22%, serviços 20%, construção civil 13% e doméstico 8% (Dieese, 2008).  Entre outras constatações e características o comércio é um serviço de baixo salário, de pouca qualificação e que tem como determinante na contratação, a imagem, a “imagem juvenil”.

Juventude e Cárcere

Alguns não têm a opção trabalho, formação ou paciência, com escassa condição de planejamento da vida e caindo na criminalidade. E não são poucos, 30,2% da população carcerária são de jovens mulheres e homens de 18 a 24 anos. Se somarmos com a juventude carcerária até 29 anos chega-se em torno de 55% da população carcerária, equivalente a 430.232, destes a maioria tem escolaridade até o ensino fundamental incompleto (Ipofen, 2008).  

Periferia e Realidade

Periferia tem revezes e quando não desejada, à periferia psicológica é talvez a pior, ou seja, a periferia de si mesmo. Dentre as situações constatadas vinculadas aos sonhos dos indivíduos; não é possível afirmar que todos que sonham alcançam, ou que todos que sonham exercem consciência política. No caso da juventude existe um movimento de cerceamento, como visto, nos primeiros anos de integração com a sociedade e nas situações mais limitadas são inusitados os que alcançam o sonho; condição de integridade e satisfação nas diversas atividades humanas.

Realidade e Mundo

Essa situação é basicamente oriunda de país periférico e emergente do sistema capitalista; o Brasil no ranking da ONU – Organização das Nações Unidas de IDH (Índice de desenvolvimento humano) de 2011 ocupa a posição de 84º, situação média numa escala de 187 países. Porém é uma posição relativizada por ter obtido dados do IPM (Índice de Pobreza Munti-dimensional – 2006) um dos índices complementares do IDH. Mesmo assim é visível que quaisquer posições que os países emergentes sobem neste ranking e, que valorizam a ação social do estado, tem maior impacto que a evolução dos países chefes do capital, visto no nível de intervenção dos países emergentes nos últimos anos, tendo como referência os BRICS e os da América – Latina que ocupam o topo do ranking dos 10 países que mais evoluíram em IDH no período recente, 2º Cuba IDH – 51º e 3º Venezuela IDH – 73º.

Sonho, Realidade e Mundo

A idéia de “sonho que se sonha junto é realidade” (R. Seixas) é a virtude maioral que a periferia pode apropriar-se. E neste contexto, podemos exemplificar a periferia que vemos nas diversas manifestações de vigor cultural e classista (consciência de classe). O conceito geral de periferia tem a necessidade de unidade e organização com o exercício cotidiano de evitar situações e conceitos de bairrismo, corporativismo e fisiologismo. Mantêm – se em torres de interlocução no âmbito de transformação. Busca desenvolver atividades de interação dos diversos núcleos, com noções individuais e com objetivo coletivo.  

Dados:

*Os dados da juventude trabalhadora no Brasil, seguiram, o período 2007 e 2008; em que pese à manutenção da estabilidade do projeto gestor em nível federal desde 2002, tais números não sofreram grandes modificações. Com tendência de avanço, diante, de aumento do índice de inclusão social, somados a imprescindibilidade e probabilidade da aprovação da bandeira dos 10% do PIB para a Educação.

**Em relação à taxa de cárcere de menores infratores de 15 a 17 anos, obtendo como base o Estado de São Paulo; a Fundação Casa do Estado de São Paulo, registrou, diminuição de 20% nos casos de reincidência no biênio 2006-2008, 20.000 adolescentes presenciados e 5.300 adolescentes internos no ano de 2008.

***O poema a seguir foi extraído da rede social no dia 03/11/2011. O postante é Elimar um jovem trabalhador de 17 anos de um bairro da periferia do ABC – paulista; no conceito de classe e da comunidade é considerado um jovem sagaz. Descreve o, seu eu, assim:

O amor é uma memória

Assim como a terra que carrega o nome da África

O amor está na minha mente.

É para todos, Não importa de onde você é,

Amor ultrapassa todas as barreiras.

Como o sentimento de todas as estações mudando,

O amor é uma memória

E nestes últimos dias, quando a iniqüidade surpreende,

Verdadeiro amor fala.

No mundo dos Seres Humanos: #Poesia&Movimento
(André Lemos)

O núcleo da Terra em si é a terra
E a Terra na dela é o sol.
O melhor lugar para se viver é na periferia;

a atmosfera é a periferia na Terra
e o planeta Terra é periferia
no Sistema Solar.

Eis que ocorre a simbiose, pois,
a atmosfera é o núcleo da vida.
Cujo conjunto possibilita o céu.

Vive-se a vida,
como em uma estrofe de música,
em que; “Deus dando a paisagem;
o resto é só ter coragem”, cita, Zé Keti.


André Lemos é sociólogo e membro da equipe do Centro de Estudos Sindicais (CES).

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