O pluralismo sindical no contexto internacional: mais um resultado…

O pedido de concordata da American Airlines causou certo frisson no mercado internacional, já abalado pelas recentes e contínuas crises estruturais da economia capitalista mundial. Suas ações tiveram uma queda livre de quase 80%.  O que de fato deve ser evidenciado em mais uma derradeira tentativa de reestruturação de suas atividades: Em nota, a AMR Corporation (empresa que controla a 3º maior companhia dos EUA)  afirma que se trata de uma “providência para atingir a estrutura de custo e de débito que seja competitiva”. O que soa estranho, tendo em vista que essa mesma companhia passou com um alto custo (pago pelos trabalhadores em sua maior parte) pela fase desastrosa da aviação norte-americana nas últimas décadas.

Em termos gerais, um pedido de concordata é uma medida de segurança para que a empresa continue funcionando enquanto reorganiza as suas atividades e seus compromissos financeiros sem que os credores possam acionar meios jurídicos contra ela. No caso, o que está colocado como justificativa – conforme a própria empresa afirma – é buscar custos competitivos no setor da aviação. Cabe perguntar exatamente quais os custos que devem ser atingidos: Salários, benefícios, padrões de qualidade ou segurança entre outros e como devem ser equacionados. Com mais de 80 mil funcionários, o principal argumento é que os custos com esses trabalhadores estariam acima de US$ 1 bilhão das outras concorrentes. Não é difícil de avaliar quem pagará a conta da ciranda financeira que torrou os 80% das ações da AMR Corporation.

A empresa faz passar despercebida a sua política de relacionamento com os trabalhadores ao afirmar que espera manter os pagamentos dos funcionários. A omissão é que parte dos custos que alardeia são ações trabalhistas acumuladas nos últimos 10 anos. Espera fazer em uma situação excepcional que não fez em condições “normais”. Ao acionar a Lei de Falências, faz com que as ações trabalhistas existentes (e as próximas)  sejam resolvidas na justiça do trabalho (portanto, fora do espaço de luta da maioria dos trabalhadores) continuando a sua ausência nas responsabilidades junto aos sindicatos que não seguem a linha ideológica da empresa.

A conjuntura econômica norte-americana tem sido desastrosa para a luta dos trabalhadores e o pluralismo sindical (modelo ideal para alguns aqui no Brasil) tem se mostrado ineficiente para os trabalhadores. Tanto é que a empresa negociou com vários sindicatos desde 2003, redução de salários e aumento da jornada de trabalho entre outras perdas de benefícios previdenciários.

Um dos reflexos desse pluralismo sindical se reflete no rol de bandeiras pelas quais os sindicatos devem se preocupar: custo do trabalho e competitividade para salvar a empresa. Bandeiras opostas aos melhores salários e condições de trabalho para desenvolver não só uma empresa diferente, mas os próprios trabalhadores. Todos.

Certamente, a recuperação da American Airlines não se dará sem sangramentos. A desmobilização dos inúmeros sindicatos bem como o seu reduzido e fracionado poder de negociação para a totalidade da classe trabalhadora poderá tornar claro o limite do pluralismo sindical. As direções sindicais se defrontarão com um contexto de lutas onde poderão ser forçadas a aceitar acordos que contemplem a sua base de trabalhadores associados, mas não a totalidade de sua categoria. Diante de vários pequenos sindicatos a negociação será nivelada pelo melhor interesse da empresa ou daquele que adequar a luta aos objetivos de custos e competitividade da empresa. Além de pagar os custos do capitalismo, os trabalhadores pagarão os custos de uma equivocada estratégia de luta.

Tal perspectiva coloca mais uma vez diante do internacionalismo da classe trabalhadora, a necessidade do fortalecimento da unicidade sindical. Por mais que algumas correntes sindicais defendam o pluralismo sindical no Brasil, o que tem se mostrado em todos os espaços de luta é que a estratégia divisionista rebaixa o papel do trabalhador enfraquecendo ainda mais o seu poder de ação e coloca a classe trabalhadora em uma posição defensiva. O caso da American Airlines é exemplar e deve servir para que o debate em nosso contexto seja mais amplo e principalmente, um posicionamento contra o capital financeiro e pela valorização do trabalhador.


Júlio Floriano é professor e sociólogo. Especialista em Economia do Trabalho e Sindicalismo (Cesit) e mestrando em Sociologia pela Unicamp. Atualmente é assessor sindical da CTB.

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