Após pressão dos metalúrgicos, governo ameaça suspender incentivos à GM de São José dos Campos (SP)

A General Motors do Brasil e o Ministério da Fazenda vão discutir nesta terça-feira (31) sobre 1.500 demissões previstas na fábrica de automóveis em São José dos Campos (SP).

Para evitar demissões na GM de São José dos Campos, o governo de Dilma Rousseff ameaçou no último dia 27 suspender a redução do IPI para automóveis, que está em vigor desde maio e valeria até 31 de agosto. O recado foi dado após o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos pedir a intervenção do Executivo para evitar demissões.

Sindicalistas dizem que a montadora pretende fechar a unidade de São José, algo que Dilma só pretende aceitar se forem criadas vagas equivalentes em outra fábrica. Segundo o governo, se a GM reduzir o número de postos de trabalho, será revisto o incentivo a todo o setor.

O incentivo foi concedido a pedido da associação dos fabricantes de veículos (Anfavea). A Fazenda autorizou a redução do IPI para incentivar vendas e enxugar os estoques. Uma das condições era preservar empregos. Alguns ministros reconhecem que a suspensão do IPI reduzido é drástica e que o Planalto aposta num acordo. O governo convocou a GM e a Anfavea a dar explicações. A reunião está agendada para a próxima terça, com Guido Mantega (Fazenda).

A GM anunciou o fim da produção do Corsa em São José. Para o sindicato, a decisão confirma a intenção da empresa de fechar a unidade e acabar com até 2.000 postos de trabalho. A montadora se comprometeu a não demitir até novo encontro, em agosto.

Impasse

Depois de uma reunião sem acordo na semana passada, uma nova rodada entre a montadora, o sindicato e a prefeitura de São José está marcada para o próximo dia 4. Até lá, a GM se comprometeu a não demitir.

Enquanto isso, a queda de braço entre sindicato e a empresa continua. A GM  argumenta que, desde junho de 2008, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região não fecha acordo para a entrada de novos projetos na fábrica. Já o presidente do sindicato, Antonio Ferreira de Barros, disse que nenhuma proposta de novos projetos foi apresentada depois disso e que a entidade briga para manter os funcionários antigos na empresa. “Eu quero que a GM prove que ela encaminhou essa discussão [de novos projetos] para o sindicato. A empresa queria que a gente fizesse uma série de mudanças, mas não estavam atreladas a novos investimentos”, declara Barros.

Segundo ele, 25% dos funcionários da planta foram demitidos para a contratação de pessoas mais jovens que aceitaram salários 30% menores. “Não queremos que aconteça em São José o que aconteceu em São Caetano, onde 75% dos funcionários antigos foram substituídos.”

Para embasar suas afirmações, os representantes dos trabalhadores divulgaram na noite da segunda (30) um estudo do Dieese da região que avaliou os dados de empregos ligados à fabricação de automóveis, camionetas e utilitários nas 3 cidades onde GM exerce essas atividades.

Nesses locais, diz o levantamento, foram cortados 1.189 postos entre julho de 2011 e junho de 2012, e só Gravataí tem resultado positivo de contratações. Ainda segundo o estudo, em São José, foram fechadas 1.044 vagas no período, sem contar os “356 trabalhadores que aderiram ao Programa de Demissão Voluntária (PDV)” aberto pela GM em junho passado.

Para “salvar” o setor de automóveis da unidade, o presidente do sindicato defende 4 novas propostas: início da produção local do Sonic, hoje importado da Coreia do Sul; transferência da produção do Agile da Argentina para São José; retomada da linha de caminhões; e transferência de toda a produção do Classic (hoje dividida entre Rosário, na Argentina, São Caetano do Sul e São José dos Campos).

A única proposta do sindicato acatada pela GM foi a criação do terceiro turno para a linha da S10, medida que já era prevista pela montadora com o lançamento da nova geração do modelo.

RS e SC recebem investimento

A falta de acordo entre a empresa e o sindicato também levou ao corte de investimentos na fábrica de motores e transmissão de São José. Quem ganhou a linha mais moderna foi Joinville, em SC, com a construção de um novo complexo industrial. Ao todo foram R$ 350 milhões na construção somente da fábrica de motores. No local também haverá uma unidade fabril de transmissões, mas as obras dessa planta foram suspensas temporariamente por conta da retração do mercado europeu, destino de boa parte da futura produção. O complexo industrial na cidade está orçado em mais de R$ 1 bilhão.

Já a planta de Gravataí (RS) foi uma das que mais receberam investimentos. Ali também são produzidos o Celta, que deverá continuar a ser vendido mesmo com o lançamento do Ônix, e o Prisma. A fábrica de Gravataí foi alvo de expansão a partir de 2010, para aumento de 65% de sua capacidade de produção, de 230 mil para 380 mil veículos por ano, a fim de comportar o projeto Ônix. Na época, a montadora informou que destinaria R$ 1,4 bilhão à unidade gaúcha.

Centrais seguem apoiando trabalhadores

Enquanto o impasse entre GM e sindicato não é resolvido, as centrais sindicais seguem apoiando os trabalhadores da GM e acompanhando de perto todo o processo de negociação. No último dia 25, a CTB, NCST, Força e UGT divulgaram uma nota unitária em apoio aos 1,5 mil trabalhadores da montadora ameaçados de demissão em massa. (Leia nota)

“Estamos ao lado dos trabalhadores e lutaremos, unificando as forças, para garantir os postos de emprego da GM. Não é possível que mais uma vez a culpa recaía sobre o ombro da classe trabalhadora”, destacou Marcelo Toledo, dirigente da CTB e do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul.

Portal CTB com agências

 

 

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