Em recente matéria publicada na imprensa, Fernando Henrique Cardoso, FHC, referindo-se ao PSB e à possibilidade da candidatura presidencial de Eduardo Campos, levanta várias questões, que, ao mesmo tempo, exemplificam a sua visão conservadora e desejos sobre política e a posição do PSB na atual conjuntura.
A primeira questão refere-se sobre o êxito eleitoral do PSB no pleito de 2012, que FHC limita sua abordagem apenas às vitorias em Fortaleza e Recife, tendo representado uma derrota e uma cisão do campo político, sobre o que o mesmo chama de “lulo-petismo”, quando Lula e o PT são distintos. Na verdade o PSB vem obtento vitórias eleitorais em seguidas eleições. Há muito tempo que o PSB vem obtendo crescimento eleitoral progressivo, até chegar aos 444 prefeitos eleitos em 2012, o que, em contrapartida, impõe o desafio de realizar administrações voltadas às reais necessidades das pessoas em cidades de realidades tão díspares.
Também tivemos um crescimento na bancada federal, até chegarmos aos 38 deputados federais eleitos em 2010 da atual legislatura. Também, em 2010, foram seis governadores eleitos. Mais, ainda, as vitórias do PSB, Brasil afora, se deram em contraposição às várias forças políticas de todos os partidos e não um enfrentamento ao que chama de “lulo-petismo”, sem considerar que o PSB apoiou mais o PT, do que foi apoiado.
Quando Eduardo Campos disputa o governo de Pernambuco, em 2006, não foi em função do rompimento com o nosso campo, muito menos, rompemos com o governo democrático e popular liderado por Lula, com quem estabelecemos grandes parcerias e continuamos com Dilma.
Diferente de FHC, honramos nossa historia e não mandamos apagar a memória dos nossos fundadores, representados por João Mangabeira e de lideranças como Jamil Haddad, Miguel Arraes e Roberto Amaral para ganharmos eleições. Assim, a marca mais cara ao PSB, e o que nos diferencia dos demais partidos, é o legado e a história no campo da esquerda, que para avivar a memória, combateu as privatizações e o desmonte do Estado brasileiro, o projeto entreguista-neoliberal dos dois governos FHC. Soma-se a boa gestão dos socialistas que perfazem a boa imagem junto à sociedade brasileira, o que nos rendeu um número maior que 70% de prefeitos reeleitos, acima da média nacional que foi de 50%.
Segundo Roberto Amaral, sobre a recente vitória eleitoral, “vencemos as eleições porque nos preparamos para a disputa, em segundo lugar, porque apresentamos boas gestões”. Não é por acaso que o governo Eduardo Campos é o mais bem avaliado do Brasil, fruto de muito trabalho e um novo modelo de governança, não custa lembrar, sobre isso, FHC, nenhuma linha, mas, está implícito na preocupação que suscita a possível candidatura socialista de Eduardo Campos à Presidência da República, o que não está decidido, mas, trata-se de um direito conquistado pelo PSB, junto à sociedade brasileira.
Não custa acrescentar que o PSB fez a difícil equação, ganhar eleições, o que exige inflexões, aqui e acolá, diante das diferentes realidades regionais, mas, mantém seu programa de partido socialista, de esquerda.
A segunda questão, diz respeito ao conceito de que “os eleitores dividem-se em governistas e oposicionistas, assim, por “culpa” dos eleitores, somente poderia haver “vida política” na dicotomia, governo versos oposição. Para FHC, o PSB como governo estaria impedido de ter candidatura presidencial, por submissão e consequência; numa lógica da submissão para ser governo, e a liberdade sendo oposição, não dizem respeito ao PSB; pelas atitudes do nosso partido nos cargos que ocupamos por colaboração e não por imposição; a exemplo, assumimos o Ministério da Ciência e Tecnologia no primeiro governo Lula, que na gestão de Roberto Amaral, desafiado, tirou a política de C&T do ostracismo, para um novo patamar de importância para o desenvolvimento do país, política continuada nas gestões socialistas que se seguiram (do limão fizemos a limonada).
Não estamos no governo para realizar “negócios”, antagônicos, que somos, à prática de cooptação dos partidos pelo governo, inclusive e, principalmente no governo FHC (é só lembrarmos do lobby que instituiu a reeleição pelo Congresso Nacional e o processo da privatizações). Ao contrário, estamos no governo popular e democrático, contribuindo para que ocorram as mudanças tão necessárias para o país se desenvolver com distribuição e justiça social. Assim, trabalhamos para que o atraso não volte, no caso o governo neoliberal e da crise que tanto penalizou o povo brasileiro. Lembrar que o salário mínimo, no governo FHC, não passou de US$ 96 e hoje chaga à patamares, praticamente, quatro vezes maiores, como um exemplo de nossas diferenças, governar para o povo ou para o capital, eis a questão!
O fato de podermos ter a candidatura de Eduardo Campos, já em 2014, desejo que começa a tomar a militância do PSB, com repercussões em amplos setores da vida nacional, o que poderá ser pelas circunstâncias, e principalmente, apontando para avanços mais estruturais para o país, não dizem respeito a sermos governo ou oposição, é uma decisão soberana do PSB e suas bases. O PSB não se sentirá constrangido e nem se deixará constranger, pelo fato de colaborar com a presidenta Dilma e lançar a candidatura de Eduardo. Para tanto, não precisaremos mudar de lado, pois somos construtores da frente Brasil popular, lançada por Jamil Haddad e João Amazonas, que levou à Presidência da República um operário forjado na fábrica e no movimento sindical.
Não queremos e não iremos para a oposição, nem tampouco nos juntaremos ao PSDB, DEM e PPS (o abraço da morte), para termos candidatura presidencial. Sobre isso, Roberto Amaral, falando em nome do PSB, já deu a resposta em notas amplamente divulgadas.
Do mais, FHC não deve alimentar sonhos e delírios, com a proposta de ter Eduardo Campos na chapa da direita, nem na cabeça, nem no rabo, como falamos no movimento sindical.
Por fim, quanto às questões que dizem respeito ao PSB, as bases sociais e o rumo político não ficarão sem respostas para próximo e breve.
Joilson Cardoso é professor e secretário de Política Sindical e Relações Institucionais da CTB, além de membro da Executiva Nacional e Secretário Sindical do PSB.