O povo na rua sempre abre possibilidades

As manifestações ocorridas em 11 capitais do Brasil na última segunda-feira (17), mobilizando 250 mil pessoas e que ainda prosseguem pelo país afora, devem ser registradas na história da vida política brasileira como alvissareiras, como uma oportunidade e, como tal, repleta de possibilidades.

Uma grande mobilização nacional, justa e popular como esta propicia desdobramentos objetivos e subjetivos numa sociedade. Geralmente a partir de algum fato catalisador – neste caso os reajustes das passagens dos transportes públicos – ela provoca articulações, pautas, ensinamentos, confrontos e apreço pela luta social. 

Portanto, contribui para a formação de uma consciência social avançada de um povo, condição indispensável para se alcançar as transformações maiores de uma nação.

Legitimidade a toda prova

Para o pensamento progressista, esses elementos por si só dão completa legitimidade aos movimentos em curso no país. Além disso, por conseguirem sintetizar e aglutinar demandas sociais populares represadas há décadas, amplia-se ainda mais essa condição.

A juventude brasileira e sua forte capilaridade social

A juventude brasileira – a grande protagonista política dessas manifestações – mais uma vez é depositária histórica de anseios populares. Através de novos instrumentais, mas, sobretudo com sua ousadia e maior mobilidade política, conseguiu aglutinar imensas camadas sociais e nacionalizou uma pauta que não é só sua e a fez vê-la de uma forma viva perante o país.
Confrontou um modelo que nos últimos tempos e em grande parte prevalece no país: a via pela negociação parlamentar e governamental, uma arena movediça que tem represado a solução dessas e outras demandas populares. O movimento deslocou a agenda para as ruas e exige um novo ritmo à sua superação.

Gargalos concretos de uma geografia concreta

A mobilidade urbana e a qualidade dos serviços públicos estão em crise em todos os centros no país e foram postos no centro do debate nacional. Não à toa, o epicentro dessas jornadas ocorre nas capitais. Uma situação que só não é mais dramática do que os efeitos da seca sobre o semiárido nordestino.

“A gente não quer só comida…”

Apesar da concretude objetiva de suas reivindicações, o movimento em grande parte se nutre – e também por isso tem amplo apoio popular – por expressar uma repulsa contra o status quo das representações políticas e sociais do país. Mesmo que isso seja resultado de um projeto midiático da elite para afastar o povo da vida política, é um fato que exige depuração e requer de uma forma crítica e autocrítica uma análise por todos nós.

No entanto, essa circunstância de alcance político limitado, pode ser o fator que mais condicione os resultados desse processo. O espontâneo assemelha-se a uma reação instintiva: tem impulso e fôlego curto, e se instrumentalizado por interesses escusos e contra o povo, possibilita-se a retomada de retrocessos no Brasil.

Desenvolver o movimento programaticamente e de uma forma ampla são condições para a conquista de melhorias imediatas e futuras. 

Oportunidade para um novo projeto nacional

O Brasil, mesmo sob a égide de um novo ciclo político em curso, carece de um novo projeto nacional de desenvolvimento que consiga aglutinar as forças democráticas e populares. Isso requer convicção e liderança para conduzir essa estratégia.
Essa plataforma deve enfrentar no atacado e não no varejo os obstáculos que impedem o progresso social do Brasil. As flutuações do governo Dilma em torno desse necessário caminho precisam ser disputadas em novo patamar.

Pouco provável não haver um agente político e social no país que não esteja neste momento refletindo sobre o recado dessa manifestação popular.

Aos comprometidos com o povo e o futuro da nação espera-se que concluam em assumir para si o exemplo da luta ora em curso, pois esta dá efetiva centralidade política às ruas e relativiza o exercício exclusivamente institucional.

Mãos à obra.


Divanilton Pereira é membro do comitê central do PCdoB, da CTB, da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e do SINDIPETRO-RN.

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