Se liga, Dilma: ouça a voz das ruas

As ruas estão avisando: é preciso agir. Na comunicação estamos muito atrasados. Esses jovens que ocuparam as ruas e praças em todo o Brasil têm muito que dizer, mas não têm onde falar.

É preciso ampliar a liberdade de expressão no pais. As ações de governo e de outros tantos setores emudecidos da sociedade, não podem continuar sendo filtradas pela mídia comercial. Vários desses meios vêm tentando passar a ideia de que é o governo federal o alvo das manifestações de rua. E, no primeiro momento, seguindo sua lógica mesquinha chamaram todos de vândalos. Como contestar?

Através dos mesmos meios é quase impossível. A saída são os espaços alternativos, os existentes e os que necessitam ser criados.

Para isso há dois caminhos a serem seguidos: o fortalecimento da mídia não comprometida com os interesses secularmente dominantes no país, seja ela pública ou privada, especialmente a que circula pela internet e o imediato envio para o Congresso de uma lei de meios capaz de dar espaços a outras vozes, dissonantes da ladainha conservadora.

Se tivéssemos, nos últimos dias, uma mídia alternativa forte, sustentada por recursos semelhantes ao oferecidos pelo governo à mídia tradicional, as perspectivas futuras do movimento das ruas poderiam ser outras. Todos estão surpresos com a dimensão do que vem ocorrendo, mas as tentativas de explicação, salvo raras exceções, são as simplistas e reacionárias. Com uma mídia alternativa forte o debate em torno desse tema se tornaria bem mais qualificado.

Além disso, cadeias de rádio e televisão públicas, de alcance nacional, são fundamentais nesses momentos. É através delas que as opiniões se multiplicam dando ao cidadão a possibilidade de escolha. Exemplos não faltam em vários países que contam com sistemas públicos de comunicação fortes.

O caminho paralelo a esse é o da Lei de Meios. Já são 19 projetos engavetados desde a Constituição de 1988. É preciso que o governo se ligue na importância da lei. Sem ela a democracia brasileira não só não se ampliará como corre sérios riscos de retrocesso.


Laurindo Lalo Leal Filho é sociólogo e jornalista, professor de jornalismo da ECA-USP

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