As ruas mandam recados

As notícias sobre os movimentos de rua que estão acontecendo em todo o Brasil chamam a atenção por alguns aspectos que precisam ser devidamente avaliados. Como se recorda, tudo começou com manifestações convocadas pelo Movimento denominado de Passe Livre, formado em sua maioria por estudantes visando conseguir passagens gratuitas nos transportes coletivos. E que em seguida  levantaram a questão relativa ao valor das passagens, levando em conta os reajustes programados e em muitos casos já aplicados pelos Executivos Municipais em várias regiões brasileiras.

Os resultados foram positivos, com o cancelamento dos reajustes. Mas os movimentos continuaram, abordando outros temas como a deficiência no atendimento público à saúde, os problemas da educação e as falhas na segurança, entre outros. E se por um momento foram comemoradas as reduções dos aumentos, as demais reivindicações estão mostrando que os encaminhamentos não estão sendo feitos de forma adequada. E toda e qualquer avaliação começa pelo levantamento das formas como as manifestações estão sendo conduzidas.

Se merecem elogios as iniciativas em alguns setores, é preciso que se façam também algumas observações em relação ao fato de serem impedidas as adesões de integrantes de outros segmentos, entre os quais os militantes de partidos políticos e entidades sindicais. E foram decisões tomadas com um caráter emocional e agressivo. Ora, num momento em que se faz necessária a ampliação da participação, todo e qualquer segmento que se disponha a colaborar tem o direito de estar presente, desde que leve em consideração o respeito devido às decisões tomadas nas reuniões preparatórias.

Outro ponto por demais importante é a elaboração da pauta de reivindicações e mais, que se discuta previamente a quem será encaminhada, definindo quem vai levá-la e participar de possíveis negociações. É preciso também que se estabeleça uma rotina de trabalho, um calendário das várias ações a serem implementadas. É claro que em alguns momentos se farão necessárias algumas alterações, mas não dá para contar com o improviso ou os discursos que caracterizem o desabafo emocional.

E por fim, quem participa do comando de qualquer movimento tem de se identificar para que os encaminhamentos não sejam baseados no espontaneísmo, sob pena de perder o rumo e se transformar em demonstrações anárquicas, mas sem o conteúdo ideológico que é muito importante. E consequentemente, não vai ser senão uma manifestação pontual e sem muito resultado no campo social.

De qualquer forma é preciso colocar as questões como contribuição para que se busque a somatória de modo a ampliar cada vez mais o espaço ocupado e com isto se consigam as mudanças no comportamento de quem comanda, de modo a que as várias comunidades possam acompanhar as questões importantes, como a destinação de recursos para as áreas importantes. Mas que se criem mecanismos com ampla participação para o controle de atividades como o transporte coletivo. E sem esquecer que a participação popular muda os rumos da sociedade.


Uriel Villas Boas é secretário de Previdência da Fitmetal.

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