E agora, Michelle?

Ela resistiu muito a retornar ao Chile, deixando o cargo que tinha na ONU, de trabalho com as mulheres. Deixou para a última hora. Sabia que seria a grande favorita, que seria a única a ter essa condição no campo da oposição que, sem ela, teria uma dura disputa com o candidato de Sebastien Piñera.

Ela já havia sido presidenta, saiu com grande apoio popular, mas não conseguiu eleger seu sucessor. Desde então (2008) duas grandes mudanças no cenário nacional e internacional: a crise economica internacional e, no Chile, as grandes manifestações estudantis.
    
A Bachelet já tinha pego o começo da crise internacional, o que a levou a dar algum tipo de cobertura aos mais vulneráveis, os idosos em particular, diante da previdência privada que socialistas e democrata cristãos tinham recebido da ditadura e não tinham modificado. As manifestações estudantis que seu governo tinha enfrentado, tinham um caráter distinto das do governo Piñera.
    
Esta Bachelet não vai poder surfar no sucesso internacional do modelo chileno, tampouco ficar na apologia da Ação para o Pacifico e no sonho do Chile ser o tigre da América Latina. Ela já manifestou que vai baixar o perfil do Chile na Aliança para o Pacífico e se aproximar dos países do Mercosul, através de uma aproximação prioritária com o Brasil.
    
No plano interno fica claro como ela pretende, mesmo no marco do Tratado de Livre Comércio com os EUA, que ata o Chile a um modelo de livre mercado, tomar medidas que tem o Estado como protagonista para brecar a centralidade absoluta do mercado. Tanto a elevação de impostos, quanto a recuperação do caráter público da educação superior. O tema do crescimento com aumento da desigualdade foi central na campanha.

A inserção internacional do Chile também sofrerá mudanças. Piñera foi o principal impulsionador da Aliança para o Pacífico. Bachelet diz que vai baixar o perfil do Chile nessa iniciativa, aproximando-se dos países do Mercosul, especialmente através do Brasil.

A vitória de Bachelet é importante também porque representa a derrota de Piñera, saudado há quatro anos como mais uma esperança de que um empresário de sucesso na esfera privada representaria uma modernização do Estado. Piñera não resistiu às mobilizações estudantis e levou a direita chilena à sua pior derrota desde o retorno da democracia.


Emir Sader é sociólogo. Texto originalmente publicado em seu blog.

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