Considerado o “pai do violão moderno”, o chorão Garoto completaria 100 anos em 2015

É muito comum no Brasil artistas importantes serem esquecidos pela mídia burguesa e abandonados pela indústria cultural, sempre empenhadas, tanto a mídia quanto a indústria, em propagar sucessos fugazes do momento. Por isso, sempre é bom lembrar de nomes importantes da nossa expressão artística e cultural.

Conhecido no meio musical como Garoto, Aníbal Augusto Sardinha nasceu em São Paulo no dia 28 de junho de 1915 no seio de uma família musical. Cedo se tornou um dos grandes nomes do gênero genuinamente brasileiro, o chorinho, com seu violão inovador.

Talvez a sua música mais facilmente reconhecida seja Gente Humilde que ganhou letra de Chico Buarque e Vinicius de Moraes, sendo gravada por dezenas de cantores da maior diversidade. Atentem par a atualidade da letra e da melodia.

Gente Humilde (Garoto, Chico Buarque e Vinicius de Moraes):

 

 Mas o grande violonista não se limitava. “Baden Powell, Raphael Rabello, Paulo Bellinati, Yamandu Costa e Marcus Tardelli, só para citar alguns dos maiores violonistas brasileiros, consideram Garoto como o pai do violão moderno, o reformulador da linguagem harmônica do violão”, diz Jorge Carvalho de Mello.

Ele explica que “as peças inovadoras de Garoto estão presentes no repertório de grandes instrumentistas da atualidade, em várias partes do mundo. O compositor recebeu várias homenagens em forma de música, como no choro ‘Garoto’, de Tom Jobim (lançado em 1959, por Bené Nunes) ”, complementa.

Garoto (Tom Jobim):

 

Segundo estudiosos “Foi ele quem primeiro adotou no violão os acordes dissonantes com os chamados intervalos de sétima maior, nona e décima terceira, assim como os intervalos aumentados, que tanto se popularizaram no Brasil a partir da bossa nova. Garoto também explorava bem o desenvolvimento de melodias a partir da sequência de acordes”.

“Tais novidades sonoras encontram-se nas composições, marcadas tanto pela linguagem da tradição musical brasileira, quanto pelo uso de elementos jazzísticos e da escola dos impressionistas franceses”, acentuam.

Seus maiores sucessos foram “Gente Humilde”, “Duas Contas”, “Lamentos do Morro”, “Jorge da Fusa”, “Tristezas de Um Violão”, “Desvairada” e “Gracioso”.   Garoto foi forte influência para a bossa nova, sentida principalmente em Carlos Lyra e João Gilberto.

Duas Contas (Garoto):

 

Recebeu esse apelido por ter iniciado a carreira com apenas 11 anos de idade. Com o transcorrer da carreira acompanhou grandes compositores e cantores como Moreira da Silva, Carmen Miranda, Dorival Caymmi e Ary Barroso, entre outros.

Os estudiosos de sua vida e obra garantem que ele “só ficou realmente famoso e conseguiu bastante dinheiro como compositor em 1954. Naquele ano, ele ganhou um concurso da Prefeitura de São Paulo, que queria uma música para o IV Centenário da Cidade”.

A vencedora foi o seu dobrado “São Paulo Quatrocentão” em parceria com Chiquinho do Acordeom. “O disco vendeu centenas de milhares de cópias, atingindo a marca de 700 mil exemplares vendidos. Contudo, como instrumentista, Aníbal recebeu, como era comum na época, apenas o dinheiro pela gravação, e não pelo copyright do disco”, explicam.

Lamentos do Morro (Garoto):

 

Garoto faleceu no Rio de Janeiro em, 3 de maio de 1955, aos 39 anos, ou seja, um ano depois de começar a ganhar dinheiro com sua arte. Muito pouco valorizado pela mídia tupiniquim que despreza a cultura nacional e popular. Vale a pena relembrar suas obras. Foi um dos grandes transgressores da MPB, ajudando a transformá-la no que ela é hoje.

Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB

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