O golpe no Cinema Brasileiro

É natural imaginar que Kleber Mendonça Filho esteja agora chateado com esse golpe relativo a escolha de um outro filme para comissão do Oscar. Imagino que esteja mesmo. Mas do meu ponto de vista o maior prejudicado não foi e nem é Kleber e sua equipe e sim o cinema brasileiro.

Houve sim uma grande batalha nos últimos anos em várias esferas, Ancine – Manoel Rangel e Eduardo Valente sem falar do cinema do Brasil – pessoas e entidades que vêm lutando tanto pela qualidade do cinema brasileiro quanto por sua visibilidade no exterior.

Ora Kleber Mendonça fez um filme – goste-se ou não – importante, extremamente bem dirigido e que conquistou uma vaga na competição de Cannes – a mais difícil do mundo. Alem disso, está tendo sucesso de público e de crítica no seu país de origem.

Escolher outro filme para representar o Brasil agora – um filme que ninguém viu – não é apenas uma derrota para Aquarius – Filme , é antes de tudo uma mudança de rumo nos paradigmas de qualidade que viemos construindo todos nós juntos há anos.

O que esperar do futuro?

Que os amigos de Michel Temer sejam daqui para frente os grandes autores do cinema brasileiro – independentemente de sua qualidade ou mesmo de sua representatividade junto ao público?

A resposta é triste e é: provavelmente sim.

Com esta escolha de hoje, enterramos muito mais que um filme. Enterramos um paradigma de qualidade e legitimidade para o cinema brasileiro.

Quando se está vivendo sob a égide de um golpe nacional, porque haveria de ser diferente com o cinema?

Anna Muylaert é cineasta, diretora de Que Horas Ela Volta? e Mãe Só Há Uma, entre outros. 

Os artigos publicados na seção “Opinião Classista” não refletem necessariamente a opinião da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e são de responsabilidade de cada autor

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