Para Andrea Caldas, o governo Bolsonaro nega as construções democráticas pós 88 e renega até mesmo o que as ditaduras construíram, contraditoriamente. É a negação explícita de qualquer compromisso com a educação
A história educacional do nosso país é marcada mais por rupturas institucionais do que por continuidades democráticas.
Depois de uma longa noite colonial, em que a educação nacional foi deixada ao largo das preocupações, tivemos um arroubo nos anos 30, rapidamente sucedido pela ditadura do Estado Novo.
Mas, mesmo lá, havia uma preocupação – autoritária e centralizadora – com um projeto de educação nacional.
Foram as Reformas Capanema que deram feição à educação nacional adaptada a um novo mercado.
E assim ocorreu, também na ditadura civil-militar de 64 que, de forma autoritária, novamente, conformou um modelo de educação profissionalizante e construiu a pós-graduação no país.
O governo Bolsonaro é a antítese de tudo isto.
Nega as construções democráticas pós 88 e renega até mesmo o que as ditaduras construíram, contraditoriamente.
O governo Bolsonaro é a negação explícita de qualquer compromisso com a educação.
Nem para o Mercado, nem para a nação.
Soma personalidades sem qualquer tino administrativo com recalques educacionais de alunos fracassados.
Não domina a técnica, não articula o bom português e se orgulha da ignorância.
Não se trata mais de haver uma disputa entre educação para o Mercado ou para a cidadania.
Não há nenhum projeto para a educação, neste governo.
E isso só pode ocorrer porque a elite nacional que empresta seu apoio abdicou de qualquer projeto de país.
Nos venderam. Venderam as gerações e o futuro.
Não há projeto a disputar.
Há uma ausência de preocupação.
Há uma lacuna de temporalidade histórica.
Andrea Caldas
Professora da Universidade Federal do Paraná, pesquisadora de políticas educacionais e militante da área da educação. Doutora em Educação, atua na área de gestão educacional, trabalho docente e movimentos sociais. Coordenadora do Fórum Estadual de Educação, no Paraná. É colunista da Revista Fórum.