Por Altamiro Borges
“Nova promotora que investiga Flávio Bolsonaro é madrinha de casamento da advogada de… Flávio Bolsonaro”. O título irônico é de uma notinha da revista Época e confirma que o senador, que acaba de comprar uma casinha por “apenas” R$ 6 milhões, tem costas quentes – além do paizão que é presidente da República.
Segundo a matéria, “a promotora Carmen Eliza, a nova encarregada de investigar Flávio Bolsonaro no inquérito que apura se o senador cometeu o crime de falsidade ideológica eleitoral, é madrinha de casamento de Luciana Pires, advogada do filho mais velho do presidente”.
A coluna da Época obteve fotos que mostram Carmen Eliza no chá de lingerie de Luciana Pires e na foto oficial do casamento, em 2018. “Carmen também participou do dia da noiva de Luciana, no Copacabana Palace, com direito à piscina do hotel”.
Joice Hasselmann e o “Papai Bolso”
Ainda de acordo com a revista, “a promotora se afastou em 2019 das investigações sobre a morte de Marielle Franco e Anderson Gomes após a repercussão de posts em redes sociais que a mostram apoiando a campanha do então candidato Jair Bolsonaro”. Já dá para perceber que ela será implacável com Flávio Rachinha!
Como ironizou recentemente a ex-bolsonarista Joice Hasselmann, o filhote 01 tem muitos amigos e sempre conta com o paizão. “Papai Bolso deu um jeito. Foram muitos cafezinhos, almoços e favores (nem tão ‘inhos’ assim), e bingo! A impunidade segue correndo frouxa. O STJ por 4 votos a 1 começa a livrar a cara de Flávio rachadinha Bolsonaro. A quebra de sigilo foi anulada”.
A anulação da quebra do sigilo bancário e fiscal a que se refere a deputada de extrema-direita do PSL de São Paulo até tinha aliviado a barra do atual senador. Mas nessa semana mais uma denúncia veio à tona. Desta vez, sobre uma mansão adquirida em Brasília. Em uma longa reportagem de Rodrigo Castro, a mesma revista Época deu mais detalhes sobre a compra. Vale conferir alguns trechos:
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Em um condomínio reservado do Setor de Mansões Dom Bosco, área nobre do bairro Lago Sul em Brasília, uma construção luxuosa com piscina e paisagismo irrigado artificialmente passou a chamar ainda mais atenção desde esta segunda (1). Seu mais novo morador é o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), que adquiriu em janeiro a residência por quase R$ 6 milhões, conforme revelou o site O Antagonista.
Com guarita especial e segurança 24 horas, o Ouro Branco Residencial reúne quatro mansões erguidas nos cinco lotes disponíveis. Somente o imóvel do filho do presidente Jair Bolsonaro possui cerca de 1.100 m² construídos e dispõe de um terreno de 2.400 m².
A mansão de dois andares, com pisos revestidos de mármore carrara e crema marfil, possui quatro suítes amplas – uma delas com hidromassagem -, academia, spa com aquecimento solar, espaço gourmet e até brinquedoteca. Os retoques modernos trazem persianas automatizadas e iluminação em led, de acordo com anúncio retirado do ar.
A residência também conta com oito vagas de garagem, dependências completas para empregados e motorista, lavanderia coberta, escritório, home-theater e salas de estar e jantar. Segundo a descrição, havia ainda a “preparação para elevador”.
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O valor do imóvel é quase quatro vezes o patrimônio declarado por Flávio nas eleições de 2018. Naquele ano, ele de informou possuir bens no valor total de R$ 1,7 milhão, incluindo dois imóveis e participações em uma loja de chocolates.
Nesta terça (2), o senador afirmou que comprou a mansão em Brasília com recursos da venda de seu imóvel no Rio de Janeiro e também da franquia de chocolates. Disse ainda que a maior parte da operação foi financiada em “uma taxa que foi aprovada conforme meu rendimento familiar”.
A certidão do imóvel registra que houve a contratação de um financiamento junto ao Banco de Brasília (BRB) para o pagamento de R$ 3,1 milhões. Serão 360 prestações mensais, com taxas de juros entre 3,65% e 4,85%. Flávio ganha salário de R$ 33 mil mensais como senador.
O histórico de transações do parlamentar está no centro da investigação sobre o suposto esquema de rachadinha em seu gabinete. Na denúncia apresentada em outubro do ano passado, o Ministério Público do Rio apontou que ao menos R$ 892,6 mil em espécie oriundos do esquema teriam sido usados para negócios imobiliários do senador
Na semana passada, a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou as quebras do sigilo bancário e fiscal da investigação da rachadinha, acolhendo um recurso da defesa do senador. Com isso, as principais provas da denúncia apresentada no fim do ano contra Flávio pelo MP do Rio devem ser descartadas.