Fome é falta de fraternidade

Por Welliton Santos

Fome. Cientificamente, o termo é usado mais amplamente para referir a casos de desnutrição ou privação de comida entre as populações, normalmente devido a pobreza, conflitos políticos ou instabilidade econômica ou financeira, provocando um caos social. E, ainda, raramente, em condições agrícolas adversas. Em casos crônicos, pode levar a um mal desenvolvimento e funcionamento do organismo.

Sabemos que, no Brasil, mais de 33 milhões de pessoas estão em situação de fome, de acordo com a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. O país voltou a aparecer no Mapa da Fome das Organizações das Nações Unidas, a ONU, depois de uma década.

Essa emergência, seguramente, fez com que, pela terceira vez, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) assumisse a realização de uma Campanha da Fraternidade que trouxesse luz ao tema, buscando fomentar ações, em todos os níveis, para minimizar os impactos desta realidade na vida do povo brasileiro.

A Campanha da Fraternidade 2023 tem como tema Fraternidade e Fome, convocando todos a considerar a fome como referência para reflexão e propósito de conversão para não ceder à cultura da indiferença frente ao sofrimento humano.

Tá. Mas, e a fraternidade?

Bem, a ciência nos mostra que o significado de fraternidade vem do latim fraternitas, que significa relação de parentesco familiar, ambiente onde deve prevalecer relações orientadas pelo afeto recíproco entre os membros da mesma família, mas também indica o sentimento que pode existir entre outras pessoas que nutrem e alimentam simpatia e respeito mútuos nas suas relações interpessoais. Completamos, ainda, sob uma perspectiva liberal, o conceito de fraternidade indica uma espécie de princípio e direito universal inerente à dignidade humana.

Diversas percepções são inerentes à palavra fraternidade, por exemplo, filosófica e teológica, sempre exprimindo uma significação específica quando é vista sob os aspectos da evolução do seu significado, ou sob o aspecto da linguística e mais, da sua etimologia.

Cuidado, afeto, simpatia, respeito, solidários. Somos fraternos? Estamos sendo fraternos?

Falta terra para produzir? Tem gente sem emprego? Catástrofes climáticas impedem produzir alimentos? E o desperdício de comida? Qual nossa contribuição para evitar isso? Louvemos a Campanha da Fraternidade 2023, cujo lema remete ao trecho bíblico, extraído de Mateus (14, 16): “Dai-lhe vós mesmo de comer!”.

Parabenizamos a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que propõe à Igreja e a todos os homens e mulheres, desde 1964, a Campanha da Fraternidade, pela 60ª vez. Afinal, sem adentrar nos méritos religiosos, mas, por princípios cristãos a Campanha da Fraternidade é um modo de a igreja católica celebrar o tempo da Quaresma, com oração, jejum e caridade associado à reflexão e ação sobre um tema específico.

Mesmo iniciando o tempo de jejum, nos alimentemos, lembrando de datas a co-memorar (recordar juntos) em 2023, pois são datas que carregam um sentido histórico, político, cultural, social da memória da luta e de lutadores e lutadoras da classe trabalhadora do nosso país, principalmente, bem como datas símbolo e marco na história da sociedade pelo mundo.

São marcos que, fixados ao longo do caminho, cultivam nossa memória e apontam práticas e valores que queremos preservar. Afinal, como dizia Fernando Pessoa: “A memória é a consciência inserida no tempo!”

Forjar a têmpera de nossa militância a partir da memória é fortalecer um compromisso com o projeto histórico da classe trabalhadora, de igualdade social e emancipação humana.

Ao comemorar as datas sempre prolongamos para além de nosso próprio tempo o sentido maior da vida pela qual sonhamos e lutamos. Comemorar as datas é, pois, prolongar a nossa própria existência. É no fundo, e no profundo, dar sentido de comunhão, universalidade e totalidade às nossas causas.

Expressão de comunhão, conversão e partilha devemos despertar o espírito cristão e comunitário na busca do bem comum; educa para a vida em fraternidade e renova a consciência da responsabilidade de todas e de todos, em vista de uma sociedade de irmãos.

QUEM TEM FOME TEM PRESSA!
(Herbert de Souza, o Betinho)

Welliton Santos, presidente do STTR de Barreiras; secretário-geral da Fetag-BA; secretário-geral do Polo Sindical da Bacia do Rio Grande e integrante da Diretoria Plena da CTB/BA.