Greenwashing: a maquiagem verde que atrasa o futuro

Foto: divulgação.

Por Pedro Lúcio Góis*

Que a pauta da transição energética e da sustentabilidade é uma pauta popular, ninguém discorda. E, se aproveitando dessa “onda verde”, muitas empresas mudaram sua proposta, sua forma de abordar o cliente e até sua imagem tentando se adequar. Rótulos com inscrições como “embalagem reciclável”, “uso de energia limpa”, com menções à redução da pegada de carbono ou à sustentabilidade inundam as prateleiras, mas será que, na prática, estamos mesmo vendo uma revolução?

“Greenwashing” é o termo em inglês que faz referência a uma prática cada vez mais comum em que empresas buscam promover uma imagem ecologicamente correta, sem, no entanto, adotar práticas sustentáveis. Pode ser traduzido como “lavagem verde” ou até “maquiagem verde”. Em resumo, essa prática consiste em destacar aspectos sustentáveis do produto ou serviço, às vezes até inexistentes, desconsiderando impactos ambientais mais severos do seu processo produtivo.

Imagine uma empresa pecuarista que passa a anunciar, através de patrocínios milionários, que usa energia renovável e reduziu sua pegada de carbono, porém desconsidera que seus produtos são oriundos de fazendas condenadas por queimadas ilegais no pantanal, um dos crimes que mais gera impactos ambientais no Brasil. Imagine, agora, uma empresa que se orgulhe do rótulo de embalagens recicláveis, mas que, na prática, não possui uma política real de reciclagem, não disponibiliza para seus clientes uma logística clara para reciclagem nem evidências de que essa reciclagem realmente ocorra. Esses são exemplos de “maquiagem verde”, uma prática que engana o consumidor, prejudica a concorrência que realmente esteja adotando práticas sustentáveis e retarda a transição para uma economia mais sustentável.

É importante que os cidadãos, organizações e governos estejam atentos à falta de transparência dessas empresas em relação aos seus produtos e ao impacto ambiental de seus processos, às afirmações não comprovadas e a utilização de termos vagos, como “verde”, “sustentável” ou “orgânico”, desconexos de evidências concretas. É importante a denúncia aos órgãos de proteção ao consumidor, às autoridades ambientais e até às agências reguladoras e órgãos responsáveis pela defesa da concorrência justa. A União Europeia já conta com uma regulamentação específica para combater esse tipo de postura, na qual o Brasil pode se espelhar e adaptar para nossa realidade.

Por fim, vale destacar que essa prática é utilizada na disputa ideológica pelo modelo de sociedade que queremos. Ao usar essa maquiagem, essas empresas buscam passar uma imagem de que estão preocupadas com a construção de uma economia sustentável e justa, preocupadas com o futuro, quando, na verdade, estão apenas criando novos problemas e se utilizando de práticas enganosas para garantir sua fatia de mercado ou a construção de seus monopólios.

*É dirigente do Sindipetro/RN, da FUP e da CTB, bacharel em Direito pela UFERSA, especialista em Direitos Humanos pela UERN e empregado da Petrobrás.

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