Lula denuncia narrativa falsa da burguesia para justificar as privatizações e enaltecer o neoliberalismo

Compreensivelmente, a mídia burguesa evitou noticiar ou destacar a crítica certeira que o presidente Lula fez às classes dominantes pela cruzada reacionária que promovem contra as empresas estatais, temperada com Fakes News, com o propósito de se apropriarem do patrimônio público para expandir seus capitais e maximizar os lucros.

“Aqui no Brasil se estabeleceu uma narrativa criada pela elite brasileira de destruir a imagem do Estado, de destruir a imagem do poder público. A ideia de que o Estado não vale nada, de que o governador não tem que ter ideia, de que o presidente não tem que ter ideia, que nós seremos bonecos na mão deles que apresentam para nós aquilo que acham que tem que ser feito”, declarou o presidente durante cerimônia de comemoração dos 132 anos do Porto de Santos e Anúncio de Investimentos no Túnel Submerso Santos-Guarujá na sexta-feira (2).

“Nós que fomos eleitos é que temos o direito de governar. Nós queremos provar que esse porto com a sua autoridade portuária vai fazer tanto ou mais do que qualquer empresário faria nesse País”, acrescentou. “Precisamos nos transformar em um país altamente desenvolvido e por isso tiramos esse porto da política de privatização.”

Os crimes impunes da Vale

A conspiração do silêncio em relação às declarações do presidente reflete o compromisso dessa mídia com os interesses dos grandes capitalistas, que comandam as narrativas falsas e ditam as linhas editoriais da grande mídia, fazendo que com esta ignore as críticas e os fatos que revelam os resultados desastrosos das privatizações.

Num negócio de pai para filho fechado no governo FHC, a companhia Vale do Rio Doce foi vendida por R$ 3,3 bilhões numa época em que somente as suas reservas minerais eram calculadas em mais de R$ 100 bilhões.

Uma vez nas mãos dos capitalistas, com os donos do Bradesco no comando, a mineradora cometeu os dois maiores crimes ambientais da história do Brasil.

O primeiro aconteceu no município de Mariana, Minas Gerais, em 5 de novembro de 2015, com a ruptura de uma barragem que originou o maior desastre ambiental na área de mineração do mundo, na opinião do jornalista Francisco Câmpera.

Os responsáveis foram a empresa Samarco, controlada pela Vale, em sociedade com a multinacional anglo-australiana BHP Billiton.

A barragem que se rompeu, por negligência e falta de investimentos em segurança, provocou uma enxurrada de lama tóxica que dizimou o distrito de Bento Rodrigues e deixou 19 mortos, além de devastar a bacia hidrográfica do Rio Doce, matar a vida aquática e acabar com o turismo e subsistência de milhares de pessoas.

No dia 25 de janeiro de 2019, a empresa, agora capitalista, repetiu o crime, desta vez na cidade também mineira de Brumadinho.

A tragédia humana foi bem maior. A negligência criminosa deixou 270 pessoas mortas, soterradas sob a lama da barragem da Vale. Cinco anos depois, os corpos de três vítimas (Tiago Tadeu Mendes da Silva, Maria de Lurdes da Costa Bueno e Nathália de Oliveira Porto Araújo) ainda não foram encontrados.

Conforme observou Câmpera “ninguém foi preso e punido como deveria. Em qualquer país sério agentes públicos responsáveis e os executivos da empresa estariam presos. No mínimo a companhia já deveria ter pago multas bilionárias, o que não ocorreu. Aqui os envolvidos posam como se uma tragédia anterior não tivesse ocorrido. Dão entrevistas como se eles fossem também as vítimas do acidente. Ao invés de buscar soluções reais, a Vale aproveitou da tragédia para lucrar. Usou a Renova para ganhar tempo com as autoridades, recusando-se a cumprir o acordo fechado com o Ministério Público Estadual e levando a disputa para o lento caminho judicial.”

Apagões recorrentes em São Paulo

Ocorre que no capitalismo (à brasileira) a Justiça burguesa, a mesma que colocou Lula na cadeia e o tornou inelegível em 2018 para viabilizar a vitória de Bolsonaro (depois ao mal feito, ameaçado pelo Clã fascista, o STF teve um surto de arrependimento) e é rude e rigorosa com os pobres, é excessivamente complacente com os crimes e as patifarias cometidas pelas classes dominantes.

Após a privatização, a mineradora se transformou num “exemplo mundial de incompetência e descaso.

Outro caso notório de negligência é o da multinacional Enel, que submete a população de São Paulo (sobretudo os mais pobres) a recorrentes apagões sempre que chove na capital.

Esses e outros exemplos de incompetência privada são solenemente ignorados nas narrativas neoliberais impostas pelas classes dominantes e reproduzidas diuturnamente pela mídia burguesa e políticos e partidários da direita e extremo direita.

Crime de rico a lei encobre

Lula também citou as referências ao Sistema Único de Saúde (SUS) que, apesar da eficiência, procuram sempre enxovalhar para enaltecer a privatização, mostrando apenas “o que não funciona”.

Outro fato emblemático lembrado pelo presidente diz respeito à fraude bilionária na Lojas Americanas.

“O grande gestor desse país era o cara da lojas Americanas, o tal do Jorge Paulo Lemann, que deu calote de quase R$ 40 bilhões nesse País quebrando a loja dele e quase quebrando o sistema financeiro. E depois é o poder público que não sabe governar”, criticou o presidente.

Lemann foi vendido como o suprassumo do empresário bem-sucedido. Era o cara que financiava jovens para estudarem em Harvard e formarem um novo governo. Falava contra a corrupção todos os dias. Parecia um campeão de honestidade, um santo, mas depois se descobriu que estava a cometer uma fraude bilionária.

Com uma fortuna estimada em US$ 17 bilhões (R$ 85 bilhões ao câmbio atual), Jorge Paulo Lemann é, hoje, um dos três homens mais ricos do Brasil. Financiou, entre outras, a candidatura da deputada Tabata Amaral (PSB/SP), que apoiou a reforma da Previdência e outras medidas regressivas do governo anterior.

Lemann é outro caso notório de impunidade e parcialismo da Justiça burguesa e da mídia hegemônica, que não faz alarde com a grossa corrupção que viceja nos círculos da alta burguesia, ao contrário da conduta adotada durante a insidiosa operação Lava Jato.

A realidade brasileira lembra, uma vez mais, o verso da Internacional: crime de rico a lei encobre.

Quem paga o pato na Americanas são os trabalhadores e trabalhadoras da empresa, que já mandou quase 10 mil para o olho da rua. O contingente de funcionários foi reduzido de 43,2 mil, em janeiro de 2023, para 32,5 mil em dezembro.

É assim que funciona o capitalismo por esses trópicos. Sem alternativas para o povo, e em meio a uma crise que se arrasta há décadas, a burguesia flerta com o fascismo e procura refúgio na extrema direita enquanto prossegue no propósito de se apoderar a qualquer custo do patrimônio público, construindo uma narrativa falsa para engabelar a opinião pública.

O futuro com que este sistema acena para o Brasil, e o mundo, é a barbárie,. Urge construir uma alternativa política da classe trabalhadora, pavimentando o caminho para o socialismo.

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